domingo, 13 de abril de 2008

Jorge Melícias (1970)



O poema são fogueiras levantadas na garganta

ou um sono inclinado sobre as facas.


Alguém diz, a prumo

todos os nomes queimam,

e há uma deflagração assombrosa,


a palavra acende-se

com uma árvore de sangue ao centro.


A Luz Dos Pulmões, 2000

domingo, 6 de abril de 2008

José Luís Peixoto (1974)


mãe, cada palavra que me ensinaste repete mil vezes o teu nome.




de A Casa, a Escuridão

Valter Hugo Mãe (1971)


não peço ao diabo

que me perdoe, dou

a deus o meu pecado

chegarei ao inferno puro.



de egon schiele, auto-retrato de dupla encarnação

domingo, 30 de março de 2008

Jorge Melícias (1970)


Na ponta dos dedos

batem as palavras sísmicas.

E a testa abre-se profusamente

à força do nome.

Digo:aquele que escreve infunde o prodígio,

respira ao cimo com a luz nos pulmões,

atravessa como se florisse nos abismos.


de A Luz nos Pulmões(2000)

quinta-feira, 27 de março de 2008

Daniel Faria (1971-1999)




Escrevo do lado mais invisível das imagens

Na parede de dentro da escrita e penso

Erguer à altura da visão o candeeiro

Branco da palavra com as mãos


Como a paveia atrás do segador

Vejo os pés descalços que correm

E escrevo para os que morrem sem nunca terem provado o pão

Grito-lhes: imaginai o que nunca tivestes nas mãos


Correi.

Como o segador seguindo o segador

Numa ceifa terrestre, tombando. Digo:

Imaginai


de Dos Líquidos, “Poesia”, 2000